NOVIDADES NACIONAL

Seminários Abertos 2019-2020

SEMINÁRIOS ABERTOS

2019-2020

ANTENA DO CAMPO FREUDIANO

Todas as quintas-feiras a partir de 3 de outubro 2019

 

Av. da Liberdade 157, em Lisboa

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10h-12h

Análise que sossega e análise que desassossega


foto jm

 José Martinho

Num dos seus últimos textos, Análise terminável e interminável, Freud disse aos psicanalistas então praticantes que não conhecia nenhuma cura psicanalítica que tivesse realmente chegado ao fim, por conseguinte que cada um devia regressar de vez em quando ao divã, por exemplo de cinco em cinco anos.

Este texto testamentário pode ser lido como a herança que o Pai da Psicanálise deixou aos seus filhos de ofício, mas também como um presente desassossegante, que confrontou os supostos psicanalistas com o impossível da sua profissão e os retirou do silencioso sossego das suas rotinas.

Será deste problema que me ocuparei este ano, realçando sempre o contraste entre uma prática psicanalítica que sossega fazendo acreditar que traz a paz, e uma outra que subverte e desassossega.

Como se pode facilmente entender, até pelo título da nova revista da ACF, Desassossegos, voltarei igualmente a falar este ano daquilo que Fernando Pessoa e em particular o seu semi-heterónimo Bernardo Soares podem trazer à psicanálise.

 analise que desassossega

 

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12h-14h

Interpretação e ressonância

 foto fp

Filipe Pereirinha

 

A interpretação é tradicionalmente, desde Freud, um dos instrumentos da análise. Seja confrontado com um lapso, um ato falhado ou um sonho, por exemplo, um analista interpreta, quando é o caso. Mas interpretar não é fornecer uma explicação ou traduzir, por exemplo, o que diz um analisando numa certa língua, a sua, numa outra que seria, digamos, a chave compreensiva da primeira: uma metalinguagem, como diz Lacan, insistindo que não há tal coisa. Mas se interpretar, analiticamente falando, não equivale a traduzir ou fornecer uma explicação, o que é isso, afinal? Será que um poeta não teria algo a ensinar, nesta matéria, ao psicanalista? Lacan, que ao longo do seu ensino invocou constantemente os poetas e a poesia, não hesitou em dizer, num dos últimos seminários, que "só a poesia permite a interpretação" (Il n'y a que la poésie qui permette l'interprétation). Como fazer, pois, ressoar esta frase, não inteiramente óbvia, de Lacan, sem cair em qualquer espécie de lirismo, o que seria não apenas desaconselhável, como, a bem dizer, falharia completamente o alvo? É o que pretendemos responder este ano, levando a sério, e desde logo em série, as múltiplas referências de Lacan aos poetas e à poesia, em particular alguns, ao longo de todo o seu ensino. Veremos, em particular, como tais referências, parecendo embora afastar-se dela, pretendem na verdade aproximar-se e circunscrever cada vez melhor o próprio cerne da experiência analítica - o seu real - no que ela tem de mais singular e irredutível a outras áreas e domínios que lhe parecem afins. E talvez desse modo a sua razão de ser - a razão que dá conta do que ela é quando acontece - tenha algo que ver não apenas com uma certa forma de ressonância (réson), mas igualmente com uma (po) ética, para servir-me aqui de dois termos de Francis Ponge, um dos "grandes poetas" que Lacan não cessa de revisitar. Ou seja: um esforço (de poesia) que visa tocar, obter ou extrair um real, para além do bla-bla-bla da língua comum.

 seminario fp

Bibliografia sumária

1. Jacques Lacan:
- Seminário VI: O desejo e a sua interpretação
- Seminário XXIV: L'insu que sait de l'une bévue s'aile à mourre
- Je parle aux murs
- Compte rendu avec interpollations du Séminaire de L'Éthique.
- Prefácio à edição inglesa do Seminário XI

2. Jacques-Alain Miller:
Un éffort de poésie

3. Francis Ponge:
- Le partis pris des choses
- La rage de l'expression
- Le savon
- Pour un Malherbe
- Entretiens avec Phillipe Sollers

4. Pessoa:
Livro do Desassossego

5. René Char:
Fureur et mystère

6. Henri Michaux:
Antologia

7. Pierre Malengreau:
L'interprétation à l'oeuvre - lire Lacan avec Ponge.

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